Fonte: FIFA.com
Edição:
Jorge Luiz da Silva.
Salvador, BA
(da redação itinerante do Esporte Comunitário)
© Getty Images |
Quando Luiz
Felipe Scolari subiu ao palanque para dar sua primeira entrevista coletiva
novamente como técnico da Seleção Brasileira, obviamente havia uma tensão
diferente no ar.
Novembro de 2012 ia chegando ao fim, e o técnico assumia um
time envolto por desconfiança.
Em seu discurso, uma única certeza: “Não somos
os favoritos no momento”.
Essa frase
que poderia parecer impensável para qualquer torcedor desavisado.
Afinal, ele
estava se referindo à única equipe pentacampeã no mundo, que, não obstante,
estaria jogando em casa, com promissora geração liderada por um jovem craque em
ascensão.
Mas o fato é que o Brasil passava por um período turbulento com a
demissão de Mano Menezes, o homem que, dois anos antes, havia sido eleito como
o capitão de um projeto em que apenas um desfecho só era tolerável: a taça
Algo que seu sucessor sabia – e sabe – muito bem.
“Temos, sim,
obrigação de ganhar o título. Podemos não ser os favoritos, mas pretendemos nos
tornar no decorrer e vamos trabalhar pra isso”, foi o que também disse Felipão
naquela mesma coletiva.
Muitos assumiram as declarações como mera bravata, para
não dizer devaneio de um treinador que, para os mais críticos, era julgado
ultrapassado. Suas palavras, contudo, ganhariam uma conotação completamente
diferente no dia 30 de junho, no domingo em que o Maracanã entrou em êxtase
depois de uma inesquecível exibição contra a multicampeã Espanha: 3 a 0 e a
autoestima mais que resgatada.
Arrumação
Quando o
treinador disse sim à CBF, praticamente a um ano e meio da Copa em casa, era
muito mais fácil buscar referências positivas sobre sua Seleção de 2002. O
presente não animava. Com boa parte de seus principais jogadores em campo, o
time havia falhado mais uma vez em conquistar o ouro olímpico. Além disso, em
sua sempre concorrida turnê de amistosos, vinha penando contra as forças mais
tradicionais dos gramados.
A despeito
da baixa confiança geral, o técnico não se esquivou de enfrentar grandes times
nos primeiros jogos. Era necessário testar seus convocados. E as dificuldades
persistiram. No fim, quando o time se reuniu para a Copa das Confederações, o
retrospecto contra seus principais adversários preocupava: duas derrotas para a
Argentina, um empate e uma derrota diante da Inglaterra, além de tropeços
contra Alemanha e França.
Num plano
geral, porém, a Seleção saiu ganhando. Após seis meses, Felipão pôde visualizar
quais pontos requeriam atenção. Tudo de acordo com o plano. “Nosso objetivo é
conquistar a Copa do Mundo. Entregamos à CBF um documento com o trabalho que
imaginamos até o final do Mundial. Durante a preparação, sugerimos que
tivéssemos adversários de bom nível, para que adquiríssemos uma boa base”,
disse Scolari, em palestra neste mês, ao lado do coordenador Carlos Alberto
Parreira e do auxiliar Flavio Murtosa.
A partir da
definição de um núcleo, o próximo passo era dar identidade ao time. O talento
de jovens como Neymar e Oscar estava disponível para a criação. Assim como, na
defesa, figuras como Thiago Silva e Dani Alves eram rotineiramente incensadas.
O desafio era juntá-los em um coletivo funcional.
Nesse
sentido, o maior tempo de preparação foi fundamental. Antes de a Copa das
Confederações começar, já se percebia que o astral era outro. “O Felipão deu um
posicionamento da parte tática em uma palestra. Em certo momento, para sentir o
grupo, perguntou se a marcação seria à frente ou na intermediária”, relembra
Parreira. “Foi unânime: os jogadores falaram que marcariam em cima. Isso é
confiança e trabalho. Acreditaram que teríamos um bom resultado, como tivemos.”
De fato, a
Seleção sufocou seus rivais em junho primeiro pela dedicação em campo – para
depois deixar sua habilidade natural terminar o serviço. O resultado? Com
apresentações convincentes, ganhou não só o título como também o trunfo mais
importante para qualquer anfitrião: o apoio da torcida, algo de valor
imensurável.
Pode ser
melhor
Vencer a
Copa das Confederações obviamente não é garantia de sucesso em uma Copa do
Mundo. Campeão em 2005, o próprio Parreira serve como testemunha para isso –
assim como Dunga, vencedor em 2009. Considerando, no entanto, o cenário de um
ano atrás, os avanços foram notáveis. O treinador conseguiu virar o jogo.
“O balanço
principal é que nós conseguimos ter um sistema tático altamente definido.
Conseguimos formar um bom grupo, formar uma equipe, independentemente de quando
jogam A ou B. Conseguimos ter os resultados que eram interessantes a partir de
um determinado momento, organizando na nossa equipe tudo aquilo que a gente
planejou ano passado.”
Sobre a
base, é natural esperar que muitos dos jogadores que bateram Japão, México,
Itália, Uruguai e Espanha em sequência estejam na lista final do dia 7 de maio.
Até porque, daqui até lá, haverá apenas mais um amistoso, em março, contra a
África do Sul.
Isso não
quer dizer que a lista esteja fechada. Neste mês, por exemplo, Scolari embarcou
para a Europa para observar jogadores brasileiros em ação. Nos amistosos
pós-título, nomes comoRobinho, Willian e Maxwell foram testados e agradaram. As
questões não deixam de rondar a cabeça de um treinador. Nem que sejam
agradáveis.
"São 45
nomes que tenho pesquisado desde o início. Tenho hoje na minha lista 25. Tenho
que fazer escolhas", afirmou. "Estou plenamente satisfeito. Mas
sempre pode ser melhor. Vou ver mais jogos para ver se acrescento um ou dois.
Continuamos observando, e a chance pode aparecer. Pode ser que ainda tenha
novidade.”
O contexto
das últimas entrevistas do comandante da Seleção, então, não poderia ser mais
diferente do que aquele de quando encarou em sua primeira coletiva. E ele volta
a repetir: “Algumas pessoas ficam duvidando da nossa palavra, de que vamos ser
campeões. Jogando noBrasil, não existe pensarmos em outra hipótese. Temos que
assumir essa postura”. Ao final de 2013, a Seleção pode assumir-se entre as
candidatas ao título da Copa do Mundo da FIFA, e vai ser difícil encontrar quem
ache isso absurdo.
Imagens:
oglobo.globo.com
placar.abril.com.br
clevertoncaricaturas.blogspot.com
bdci.tv/wp
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